quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Poesia Conceitual

Minha Poesia é crônica
No sentido visceral da palavra,
Fosse aguda a poesia minha,
Certamente não me resistiria a alma.

Relutam-me aqueles sentimentos débeis,
Opacos, cheios de "não podeis",
Invado ao âmago do eu esparso,
Procurando em vão a mim, encontro você.

Oras, se estas cá dentro, como posso vê-la fora,
Introjetei forma inexistente? Fruto dos desejos mais ardentes? 
Abstrai o que levava em mente? Estou prestes a perder-me quando fico em tua frente.

Já não sei ser projeções, faltam-me conceitos técnicos,
O que assola a alma minha é a certeza que nada é de verdade,
E o que me preocupa, e acima de tudo desaquieta meu fraco coração,  
É a possibilidade, de que um dia ao olhar pra trás, pra dentro ou pra onde quer que seja,
Arrependa-me por não ter entregado-me a tão deliciosa ilusão.  




  

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Para ninguém em especial.

Do mundo que te ofereci,
Sinto, já não posso mais nada entregar,
Do pouco que eu recebi,
Não posso de forma nenhuma me afastar,
Do muito que eu já cedi,
Você já não pode mais negar,
E posto que estou sempre aqui,
De você não quero mais, nunca mais me separar!.

Quase me perdi nas juras de teu falso amor,
Adora-me como a lua ao mar,
Mas permita-se em minhas calmas águas mergulhar!

Teus olhos têm tal poder,
Movem minha vontade como se fora dois ventríloquos,
Altera meu ânimo, quando toca-me a alma de forma tão tênue,
Exaspera-me pensar em perdê-los, já não sei se por amor, ou mera dependência.

Fora de mim, tudo é opaco,
Já aqui dentro as cores tomaram conta,
Já não me sinto capaz de compreender as motivações de meus atos,
E sozinho, certamente estarei, sempre pensando em você.
Uma noite, duas realidades.

Caiu na esquina a última lembrança amarga
Que deixou em meu peito no momento em que partiu,
Agora posso, mais leve alegrar-me,
Sem o peso do desgosto, que teu cítrico perfume deixou!

Vivo a noite, sambo e bebo a todas outras moças,
Esquecido, de que há alguns dias, dança não existiria sem você a meu lado,
Já não tenho, junto ao meu o teu corpo infiel, meio tonto, digo que isso já não se trata de um mal.
A essa hora, já sem nenhum tipo de desgosto, juro preterir o cítrico frente ao âmbar. 

Apontam-me o caminho, antes fosse via sacra,
Passando pela esquina, novamente recolho você,
Fulgurosa, pousa em meus braços, me cura e ofusca,
E juro, nunca mais te esquecer!
Sessão Limpeza 

As coisas que deixou não habitam apenas o nosso antigo quarto,
Que outrora fora palco de disputas de bem querer,
Habitam também minha lembrança, que quase me põe louco, 
Nos momentos em que o sentir solidão confundem-se com o sentir você.

Posso eu querer devolver o amor que aqui plantou?
Entregar-te o que no meu peito, por pulsar a mais, já não cabe?
Leva essa coisa que aperta-me por dentro, faz-me figurante,
Ainda que em seu lugar deixes uma saudade sem nome.

Creio ainda que não conseguirei devolvê-lo a ti, 
Tampouco ver-te sem verter um interno inexorável pranto,
Que pouco a pouco faz com que perceba a imensa bobagem em que consiste
Esta forma de amor em que cumpre-se, promete-se, sem nada pedir, enfim, doa-se,
E que dói tanto.

Por que simplesmente não pega esse desagrado e leva daqui?
Meu peito não pode mais com a chaga que tua ausente presença invoca,
Vá, suma da minha vista, procure um novo fraco espírito pra encostar,
Fico aqui, com a árdua tarefa de exorcizar-te da minha pobre possuída alma.   

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O lamento de um réu confesso.

Sentado nos degraus da escada de casa,
Com a lua fervente enxugando as lágrimas rolantes de um coração machucado,
Refaço meus planos, excluo pessoas, alimento esperanças
Pra mais tarde deixá-las, por aquele sempre impiedoso e adorável chamado.

As lágrimas nem são mais tão resistentes assim,
Agora sequer chegam a marejar meus olhos já cansados,
Nascem no peito, e ali mesmo evaporam, sem se fazerem perceber
Condensam-se, e exatamente como ocorre com a chuva, 
Voltam à superfície, não com a tranqüilidade de uma torrencial tempestade de verão,
Tampouco em forma de garoa fina que saúda as manhãs do inverno,
Reaparecem já em forma de poesias, que travestidas de obras sutis e descompromissadas
Vão levando a cabo, as camadas de disfarce deste escritor já descuidado!

Corri, tentei ver o fenômeno ocorrendo por dentro,
Dei de cara com um universo até então desabitado,
Desabitado de consciência, pois de vultos e seres turvos,
Este ambiente está na verdade mais do que superlotado!

Começo a perceber o porquê dessas angustias sem fim,
Consigo sentir facilmente que falta uma parte de mim, num canto a esperança,
Escurecida por camadas de luz negra, jaz atualmente sob um peso inaguentavel,
Ruiu aos pés das visões, e da auto natureza insone!

Coisas de bicho Homem, ouvi certa vez de um amigo que se dizia na lama,
Nunca assim a vi, discordo de sua interpretação unilateral, vazia,
Afinal, se a falta dela causa tanta tristeza, trunca a alma, entedia o dia
Por que simplesmente não dessoterrá-la dos fardos da mente humana?